sábado, 28 de agosto de 2010

Metalinguística

Neva aqui.
Há festa lá fora. Dentro de algum lugar, alguma bebida gelada, algum reencontro. Gente trepando na sala. Gente gozando no banheiro.
Fim de ano, todos querem gozar.

Onde deixei o cachecol?
Merda esses sapatos.

A nudez na tela é o texto sem corpo, sem vida.
O medo é a nudez do texto, a vida que seca sem anúncio.

Começo de ano parece o mesmo: o fôlego insuficiente para tudo, a preguiça diante do todo, incerto, inseguro, que parece nada para versos. Nada que evidencie as mazelas, são todas dramáticas e áreas para o exercício, nada tem a ver com a disciplina, a disciplina só faz nascer a rudeza das linhas, forçosas e sofridas.
O fim destrói as insipientes intenções de mudanças. Esse ano seria bom. Ao fim, desesperados, são todos dados a si mesmos. Depositar tudo na gaveta e abrir a cerveja. É enfim o natural, correr certos riscos e se afogar.

- Toma café?
- Cerveja.
- Escrevendo?
- Há sempre o que revelar.
- Gostei dos sádicos.
- Também quer um conto?
- Não. Você prefere sexo.
- Você o texto. Mas pra mim é tudo a mesma merda.

- Menina, preciso de cigarros. Não é um fim. Não sei nem onde deixei o inverno.. é só prévia de um verão. E verão, você sabe minha querida, não me pertence, é dor e riso. Você, minha menina, é então minha perdição – felicidade sem culpa ou atraso. Um dia chego pro café, na ressaca pros seus braços, cansado, fim de verão, hoje, meu amor, sou só deteriorização.

- O chá é sempre servido as sete. Mesa posta. Dois lugares. Não se faz necessário agendar o café, espero impaciente, mas não se bebe frio.