sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Fragmentos necessários.

Raimundo não era como os outros, sentava na varanda às sete da noite, com cidade querendo dormir e o vento soprando melodias, não tomava uma canção ou qualquer escritor notável, não havia companhia, era ele e os ausentes ruídos da cidade os quais sem mesmo conhecer deseja profundamente.
A cidade às vezes sorri.

Sua viagem é sentir os cabelos esvoaçarem enquanto caminha pela praia em uma madrugada insone.
Sente saudades do aroma do despertar no campo, o cheiro do café que vinha do fundo dos dormitórios, onde um forno a lenha, precário, resistia. O estranho reconhecimento com o lugar e a conversa tragada com o primeiro funcionário em posto. Quando o silêncio insitia ouviam-se as águas despencarem tomando fluxo constante e os animais em reunião.
Conta-se que uma vez passou a chamar de amigo um desses que vivem pelo lugar. Salvara sua vida e cuidando de que sobrevivesse, após a recusa da mãe, levou-o ao casebre aonde teve experiência de estimação. Não fora por altruísmo, ausência de amigos leais e tão pouco devaneio de Raimundo, qualquer explicativa - se tratando dele - seria insuficiente e desnecessária.

sábado, 23 de agosto de 2008

A hora.

É claro. Não há como se enquadrar onde não se pertence. Não se doa.

Quero escrever transloucadamente, que segunda um amigo admite neologismos. É disso que falo, toda essa coisa que é algo maior, que diz por cores, por ritmo e quadros: um risco.
E quero! Assumo, sem o medo que tanto justifiquei no princípio. Era preciso me justificar para não causar qualquer indignação primeira e agora não é mais, sem qualquer espanto de ausência de hierarquia, é hora!
As contra-indicações não são mais válidas: o medo do rascunho e da qualidade do texto, mas tudo borbulha e seca nesse período. Vem um romance? A pretensão é outra, não algo publicável, menos ainda compreensível. Uma tese, objeto de estudo. Não dessas sem poética, exatas ou concretas, falo uma tese, porque nela me baseio, talvez seja hora de me revelar, contar das conversas em porta de cinema discutindo cinema às reviradas noites insones arquivando projetos. Isso tudo é processo de uma semana mal dormida, filmes extra-continentais, um sorriso encabulado, uma bandeira, aula de texto, the doors, teoria cinematografa, uma proposta e novamente Bergman.
A temática não me assusta, é quase primavera.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Inerente.

É preciso parar com essa mania de falta de tempo. De falta de apetite para diversos temas, tenho ensaiado vários que se perderam em memória recente. Às vezes me falta atenção, não apenas para o mundo, como Caeiro me acusaria, à mim.
Descubro-me cada vez mais egoísta e por hora teimosa em extremo. Insuportável? Cada dia me assimilando mais com o que tanto renego. O medo de se entrosar e então ser só mais um, se para algum envolvimento é preciso qualquer coisa que identifique é melhor não se envolver a passar a ser algo desse meio.
Às vezes só canso. De me dizerem como agir, o que não tolerar, o que fazer, pensar: não sou - e ponto. E de repende dizem: ei, faz algum sentido! E apaixonada como sempre, iludida ao olhar o mundo: vago atrás de qualquer outro que se comova com uma melodia e que permita um entendimento ofegante, abafado, parabólico. Olhe nos meus olhos e nas palavras, que ali já não estão, que vejam o que me falha e sorriam contemplando. Sei do que você fala - É isso o esperado; não telespectador obediente, mas um menino que leve qualquer contra-senso.

Maravilhada pelo encontro idolário quase regurgitei gritos tresloucados. Tantos literatos em mesmo ambiente organizados por temática, país e data de nascimento.. levo pra casa não apenas Jorge Amado em companhia de Bergman, mas a certeza mesclada ao desejo desesperado por Letras; E quase ausente de temor; tomado por uma coragem que aterroriza.

domingo, 3 de agosto de 2008

Evasivas

Aquele dia que finalmente é o escolhido pra se importar, raciocinar e deixar de camuflar-se do perigo. É isso, medo. Apenas o que me move, e eu achando que era o compromisso, o orgulho - não! - não há nada orgulhável ou comprometido nisso, é tudo o contrário, em tudo há covardia. Covarde diante de uma lágrima, covarde pra um sorriso, pra um risco. Covarde pra Artes, pra cinema - hobby. É sempre, e tudo, hobby. Não há incerteza, e claro que a paixão nada pode ter a ver com o risco. Mas como, se são complementares, pareadas. Medo de sugerir fragilidade. De ter a pior dor do mundo e a história mais divertida de todas. Do comum.
As vezes só necessito estar só. Estar só com um filme, ir pra cama com um livro, olhar os pedestres em trânsito. Sugerir uma foto, ver uma exposição. Escrever não apenas por hobby, mas por um motivo ainda mais intragável - egoísta - pois é a única coisa que me faz expor ao mundo qualquer sentimento preso a um sorriso amarelo. Falar é fácil quando não se pede pra fugir do automático: "bem, e você?".
Esse é meu máximo. Até onde vou com a segurança de olhar para frente. Ensaio um discurso entalado na garganta, inexperiente e sem muita convicção é tomado pelas lágrimas, invento uma alergia, um cisco, e experiente trago a tona o sorriso oscilante. É tudo acabado e volta-se a contar alguma anedota, em pouco, a lágrima é esquecida e um dia lembrada como 'e a gripe?'.

Hoje, sem alergia.