sábado, 1 de novembro de 2008

Arrítmico.

Talvez eu devesse ter ignorado qualquer chamado. Calar-me diante da proposta de um riso leve. Manter a mesmice, nada que surpreenda ou mude a rotina. Talvez não. Talvez fora, e foi, bem melhor assim.
Existe balança pra isso? Um talvez que supere uma interjeição? E das interjeições o que restam?
- Nunca foram tão espontâneas. Nunca foram tão frágeis. E nunca foi tão real.
Afinal que real é esse? O que perfurou a tênue linha do talvez? Ou o que se escreveu na memória?

E o que dizer das nuvens embaladas em papel de presente, da lua em papel celofane ou do vento tocador de harpas?

Chore. É o conselho da vez. É seu por direito! Reclinam o rosto de leve, insistem um meio sorriso e a frase se lança com certa intimidade.
Há qualquer náusea na hora, vontade de explosão. Não entendem. Não entendem.
Prefere dançar um tango argentino.

domingo, 12 de outubro de 2008

Resistência ao mofo.

E ele ganhou a rua. Cada passo tomava mais fôlego eram decididos e ligeiros. Não deixava suspeita quanto à necessidade de cada um. As outras personagens que por ali transitavam não se importavam com a velocidade com que avançava os quadros, seus esbarrões tinham sua verdade transcendente. Seria tão transparente em qualquer outra circunstância? Questionava-se sobre essa verdade e por fim deixou-se abraçar por toda aquele ausência de lógica, tão pouco compreendia a real necessidade dos passos só sabia que deveria permanecer neles. E assim se guiava a partir de sua única certeza.

Ilógico. A sua nova tendência. E com ela se acostumou a tudo intragável. Seu mundo disforme virou cômodo. Os seres sem rosto ou nome já eram apenas vultos. A ilógica torna-se a nova lógica.

Agora corria, como tentando agarrar qualquer lágrima já derramada. Em busca do riso sufocado, da raiva contida na parede.

Pensou pintar o céu de vermelho, a final nada faria mais sentido que isso. Pensou expor sua dor em andaimes. Pensou um zoológico de sapiens amarrados em palavras truculentas. Sapiens amarrados sob uma meia-verdade laçados em poesias. Jurou uma fonte, não de Duchamp, uma fonte que alimentasse a sua fome. E tinha muita fome. Fome de mundo.
Julgou soberana a nação e para tal vestiu-se na bandeira e pensou voar do vigésimo terceiro andar, poupou o trânsito. Afinal o que seria dele se todos descobrissem novo método de revolução.

Correu até sucumbir. Levantou-se perseverante para gritar seus versos de fome. Prometeu poesia e se atirou, jazendo, na fotografia do jornal do dia seguinte.
Era 17 de agosto.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Consumado

Não parte de uma busca surge num café. Não vem de um desejo pré-anunciado. De um anúncio, classificado. Não é feito de bolas de sabão e flutua! Não espera que se bata na porta, mas não precisa também.
É um baque. É um parto. Uma estrela dançarina. Uma nota de rodapé.
É disso que falo, como tudo surge em sorrisos, sopros, olhares. E devora. Sossega. Desconcerta entra em sintonia;
Percebe que nada eu posso fazer?
Não existe explicação melhor, talvez sínteses melhores, menos prolixas, mas não parte de mim é uma parte. Um estado de existência que não entra em conflito, apenas àqueles de fora, para os protagonistas é óbvio demais.
É o estado de graça. E é disso que eu falo.
Não é, de longe, o mais puro e nem pretende ser, não é sensatez nem o contrário. É a vontade de se levar, de mergulhar, tornar-se trovador. A poesia a flor da pele, que versa e extravasa o traduzível, que precisa ser sinestesia, que precisa eufemismo. São os bálsamos que correm nas minhas veias e se tornam canção. Avassalador.

Um dia faço questão de ser compreendida, hoje estou punk de gritar.. afinal amanheceu um lindo dia cheirando à alegria.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Sopros

A agravante? É que agora é tarde pra qualquer promessa ou grito ensandecido.
Percebe que são sopros? Que são delírios, risos descontrolados? Tudo em completa sintonia e uma tentativa de reversão seria ineficaz porque tudo que é oposto é parte do todo, e assim é. Impossível uma tradução meramente maniqueísta.
Não se trata disso, de etiqueta, justificativa. Porque nada é um.

Encontrei um sopro desses de madrugada silenciosa e fria. Nele discorria as frustrações, o medo de perder o estilo, a retórica. Ora, seria possível?
As pessoas mudam? É sempre um processo de formação, não há como ser outro, mas sim de pertencer a tudo. Não mudam porque o objetivo não é esse, muito menos de entender um padrão, a impressão que nos fica é que o que são é tão inatingível que não há risco em perder-se em qualquer avenida, a intenção é se revelar.

Explica-se a mania de contar-se, expor-se friamente. Todo o resto é especulação; e não é esperado como volubilidade uma negação disso tudo noutro dia.


Amanhã há festa? - ácida.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Fragmentos necessários.

Raimundo não era como os outros, sentava na varanda às sete da noite, com cidade querendo dormir e o vento soprando melodias, não tomava uma canção ou qualquer escritor notável, não havia companhia, era ele e os ausentes ruídos da cidade os quais sem mesmo conhecer deseja profundamente.
A cidade às vezes sorri.

Sua viagem é sentir os cabelos esvoaçarem enquanto caminha pela praia em uma madrugada insone.
Sente saudades do aroma do despertar no campo, o cheiro do café que vinha do fundo dos dormitórios, onde um forno a lenha, precário, resistia. O estranho reconhecimento com o lugar e a conversa tragada com o primeiro funcionário em posto. Quando o silêncio insitia ouviam-se as águas despencarem tomando fluxo constante e os animais em reunião.
Conta-se que uma vez passou a chamar de amigo um desses que vivem pelo lugar. Salvara sua vida e cuidando de que sobrevivesse, após a recusa da mãe, levou-o ao casebre aonde teve experiência de estimação. Não fora por altruísmo, ausência de amigos leais e tão pouco devaneio de Raimundo, qualquer explicativa - se tratando dele - seria insuficiente e desnecessária.

sábado, 23 de agosto de 2008

A hora.

É claro. Não há como se enquadrar onde não se pertence. Não se doa.

Quero escrever transloucadamente, que segunda um amigo admite neologismos. É disso que falo, toda essa coisa que é algo maior, que diz por cores, por ritmo e quadros: um risco.
E quero! Assumo, sem o medo que tanto justifiquei no princípio. Era preciso me justificar para não causar qualquer indignação primeira e agora não é mais, sem qualquer espanto de ausência de hierarquia, é hora!
As contra-indicações não são mais válidas: o medo do rascunho e da qualidade do texto, mas tudo borbulha e seca nesse período. Vem um romance? A pretensão é outra, não algo publicável, menos ainda compreensível. Uma tese, objeto de estudo. Não dessas sem poética, exatas ou concretas, falo uma tese, porque nela me baseio, talvez seja hora de me revelar, contar das conversas em porta de cinema discutindo cinema às reviradas noites insones arquivando projetos. Isso tudo é processo de uma semana mal dormida, filmes extra-continentais, um sorriso encabulado, uma bandeira, aula de texto, the doors, teoria cinematografa, uma proposta e novamente Bergman.
A temática não me assusta, é quase primavera.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Inerente.

É preciso parar com essa mania de falta de tempo. De falta de apetite para diversos temas, tenho ensaiado vários que se perderam em memória recente. Às vezes me falta atenção, não apenas para o mundo, como Caeiro me acusaria, à mim.
Descubro-me cada vez mais egoísta e por hora teimosa em extremo. Insuportável? Cada dia me assimilando mais com o que tanto renego. O medo de se entrosar e então ser só mais um, se para algum envolvimento é preciso qualquer coisa que identifique é melhor não se envolver a passar a ser algo desse meio.
Às vezes só canso. De me dizerem como agir, o que não tolerar, o que fazer, pensar: não sou - e ponto. E de repende dizem: ei, faz algum sentido! E apaixonada como sempre, iludida ao olhar o mundo: vago atrás de qualquer outro que se comova com uma melodia e que permita um entendimento ofegante, abafado, parabólico. Olhe nos meus olhos e nas palavras, que ali já não estão, que vejam o que me falha e sorriam contemplando. Sei do que você fala - É isso o esperado; não telespectador obediente, mas um menino que leve qualquer contra-senso.

Maravilhada pelo encontro idolário quase regurgitei gritos tresloucados. Tantos literatos em mesmo ambiente organizados por temática, país e data de nascimento.. levo pra casa não apenas Jorge Amado em companhia de Bergman, mas a certeza mesclada ao desejo desesperado por Letras; E quase ausente de temor; tomado por uma coragem que aterroriza.

domingo, 3 de agosto de 2008

Evasivas

Aquele dia que finalmente é o escolhido pra se importar, raciocinar e deixar de camuflar-se do perigo. É isso, medo. Apenas o que me move, e eu achando que era o compromisso, o orgulho - não! - não há nada orgulhável ou comprometido nisso, é tudo o contrário, em tudo há covardia. Covarde diante de uma lágrima, covarde pra um sorriso, pra um risco. Covarde pra Artes, pra cinema - hobby. É sempre, e tudo, hobby. Não há incerteza, e claro que a paixão nada pode ter a ver com o risco. Mas como, se são complementares, pareadas. Medo de sugerir fragilidade. De ter a pior dor do mundo e a história mais divertida de todas. Do comum.
As vezes só necessito estar só. Estar só com um filme, ir pra cama com um livro, olhar os pedestres em trânsito. Sugerir uma foto, ver uma exposição. Escrever não apenas por hobby, mas por um motivo ainda mais intragável - egoísta - pois é a única coisa que me faz expor ao mundo qualquer sentimento preso a um sorriso amarelo. Falar é fácil quando não se pede pra fugir do automático: "bem, e você?".
Esse é meu máximo. Até onde vou com a segurança de olhar para frente. Ensaio um discurso entalado na garganta, inexperiente e sem muita convicção é tomado pelas lágrimas, invento uma alergia, um cisco, e experiente trago a tona o sorriso oscilante. É tudo acabado e volta-se a contar alguma anedota, em pouco, a lágrima é esquecida e um dia lembrada como 'e a gripe?'.

Hoje, sem alergia.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Busca por Pasárgada.

Não sei se com alguma tranqüilidade que afirmo, mas o tempo corre apressado. Permita-me uma maravilhosa tarde de papo pro mundo, as vezes isso parece impossível! Vontade de perceber o mundo, ficar sentada sobre a guia da calçada com algum contemporâneo da guerra na cabeça, algum que cantasse suas verdades - cruéis.
Vontade de me perder nas minhas loucuras, ilusões. Desafiar o mundo, sabe? Questionar sua pressa, sua mania inóspita!
Fiquei achando que era coisa de adolescente, uma fase. Tudo isso de não me encaixar, de apontar os erros do mundo e enfim julgar-me privilegiada por não me enquadrar, achei que o tempo levaria minhas convicções, que pertencer e consentir com algum lugar era algo que estaria sujeita e quem sabe até escapasse um riso, condescendente, ao lembrar das bobagens que dizíamos quando novos.
Será que é cedo para desistir?
Um interior arcaico, retrogrado, passado. Sem opções de encontros artísticos. O melhor do calmo - tão preciso para minha atividade - com o pior da mansidade, mesmisse. O interior ao mesmo tempo inspira e limita minha criação. E a idéia de metrópole que me encanta e me choca. Se a tecnologia em excesso já me põe em risco, e a luta tremenda pela paixão do agito, dos domingos com vida, dos domingos musicais, libertinos, fotomemorizantes. O desespero, o stress, do movimento dos 'crash', dos personagens sem rosto, da histórias de personagens do imaginário comum. A não autenticidade do humano, a possibilidade de tudo com o impecílio da ausência do fundamental: a singularidade. Sujeitos, não massa. Etnias, não raças. E caímos sempre no erro de classificar, que se intensifica com o aglomerado de seres pensantes. Diferem-se, metrópole e interior apenas no que diz respeito a: no interior se chocam porque reparam, analisam e qualquer fora do comum causa desaprovação, por vez na metrópole não a tempo de reparar, se chocar.
Que faço? Uso de minhas ferramentas egoístas para aproveitar-me do melhor de cada lugar?
Ou crio uma Pasárgada. Um lugar para afugentar meus pensamentos, antes que estes esvoacem, se percam por entre as avenidas e voltem desorientados, famintos de geléia real, sendo apenas mais operários em construção.

sábado, 26 de julho de 2008

Primeiras considerações.

Acho que a dúvida inicial nasce no Raimundo. Talvez o chá. Faleremos dele então, que nos precisa, pede poesia, a poesia indiscreta, que nos cerca, nos morde nos impele a verdade. Um instante! Que essa linha primeira já se foi, a confusão pede: um instante.

Um instante,
A poesia a flor da pele
rasga o tempo,
devora a emoção,
tumultua.
Se faz, se rompe: Atordoa.
Um instante,
dado ao libertário
a poesia se matura, se alude
Fortifica-se.

É por isso, tão preciso, tão necessário esse chá, talvez melhor um café, ou muitos que possibilitem uma clareza quase indescente. Devo o café, às três e não as sete. Devo um café não só a Raimundo, mundo, devo a mim, que me comprometo tanto, ou mais a mim mesma que não consigo outros compromissos. Um julgar ser tão comprometida consigo mesmo que o restante foge a meu plano, Sabino já dizia.

Ah, não há segredo que forcem um pseudônimo, e não se deve esperar revelações polêmicas, não o fiz simples e puramente, por não fazer-se necessário. Não por arrogância, ao contrário, valho mais pela minha origem e idéias que ao nome que assino, este por si só não diz nada: é ineficiente. Por enquanto assino assim e te basta. Quando julgar preciso lá o estará ilustrando o texto.