sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Poema de amor.

- A merda!
- Vá te embora com aquela puta! Sua bixa.
Isso era mais que a paciência suportava. Ia mostrar a ela.
Agarrou-a pelos cabelos. Bixa não. Era raiva, era cansaço.
Safada, riu, encheu a boca, cada letra um prêmio, um gozo: Bixa.
Pego-a ali mesmo, na cozinha. Ela gritou, gozou.
A cada riso era mais raiva, mais asco. Não era tesão, não tinha outra. Ela era outra, ela era o escárnio, ódio, o nojo.
Não sabiam, mas namoro que retorna derrama.
Queria feri-la. Queria o namoro de fim de semana, a transa da madrugada, queria.. o namoro que traz verão.
Terminou o serviço, quis cuspir de nojo. Ela ia gostar.
Prometeu lhe uma surra, ela gemeu.
Pegou a carteira, disse que não voltava, a gritaria recomeçara, eram lágrimas, ela enlouquecerá.
- Eu morro. Te mato desgraçado e depois me mato também!
- Não agüento mais você Luiza. Não há mais respeito.
- Mato ela também!
Ganhou a rua, deixou o frio e nenhuma lágrima, essas ficaram pra ele.

Não lhe valeu.

sábado, 12 de setembro de 2009

O tempo que se tem

Ela era daquelas típicas senhoras. Nascera condenada ao mesmo destino de tantas outras: tornaria-se mãe.
Um casamento arranjado, ela mal tinha os 23. Quando pequena sonhou ser bailarina, toda feminilidade permitida e ainda mais, devorar o mundo só, assim como nascera, só.
Aos poucos foram limitando-a e com menos que 15 já sonhava o vestido o ideal, a música ideal.
Depois dos 15 arranjara um sujeito respeitável que ela chamava noivo. O sujeito passará os quarenta e cultivava falhas capilares, achando que ninguém as notará penteava os poucos fios de maneira à semi cobrí-las, para aumentar o efeito colocava doses de óleo para que ficassem parados a seu modo. Tinha um emprego na prefeitura e contava vantagens à garota, que sonhava uma casa de dois andares.
Antes dos 30 se achava feliz, já tinha dois filhos e caminhava ao terceiro, era uma bênção dos céus.
Antes do matrimônio ele a levava ao ballet, vez por mês. A empolgação era tanta que ela nem notava o homem dormir. Era tanta emoção o pas de deux, sentia-se ali, era tudo o que deseja pra si, mal respira ou piscava, os olhos chegavam a deixar escorres duas lágrimas, o corpo se inclinava e as mãos vinham a boca. Levantava e aplaudia aflita, como se aplaudisse um sonho.
Depois, veio o casamento, cansaço e o ballet fora sendo prometido sempre ao outro mês, depois ela parou de pedir, começou a colecionar filhos e contentou-se com a tevê.
Veio o primeiro casamento do filho e era ele fora de casa e então eram todos fora de casa. O sujeito não vivera pra ver o filho mais velho se formar, ou a menina no altar.
Ela ficou. A casa plana, sem cerca branca, sem filhos a depender, sem o vestido que havia sido passado à menina. Ela ficou.
Ela permaneceu sentada diluindo o dia, só.
Ela ficou. Depois de algumas horas, atônita na poltrona, uma lágrima fugiu do olho e a emoção pulsara, saiu um sorriso tímido, a muito sufocado: se descobriu bailarina!


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Já se desobriu?
Ou ainda espera a solidão a porta?

Eu?
Atriz. Codjuvante umas vezes.
Agora? Quem sabe..