quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Po(e)Mar.

A primeira poesia é como caminhar na praia às seis, sem banhistas, quase noite, quase dia. O vento tocando os cabelos, livrando a cara, o pé pisando a areia, quase fria, quase quente. O vestido ritmado dançando sozinho o ar, sem óculos escuro, fina camada de protetor. A areia, branca, seca, solta as mãos, dentro das mãos, não vaza, não promete. O sol surg(indo). O descontrole, a inquietação discreta. A intimidade: a imensidão e eu.
A primeira poesia é como o primeiro beijo: a hesitação primeira.
É como o primeiro sexo: a excitação primeira.
A poesia, primeira como o orgasmo, como o sexo, como o beijo, como o tapa na cara e o cuspe no chão.
É, sempre, vinda do chão e do fetiche de fazê-la sopro na nuca. O fetiche de fazerem amor, fazerem ideal, isso, é prosa. Aquilo? É pele, a tela, sopro, melodia.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Trovador

É afetar a moral – foi quase feliz.
O plano não era esse.. o plano? Poesia.

A vida esgotara toda prosa possível, não restará mais fôlego. O surto é alucinado, curto, que a intenção é outras estéticas e a atenção se lança a outras frestas.
Os sopros ficaram roucos, os suspiros loucos.

A sala tá vazia agora.

]Lá fora a noite soletra o primeiro verso.[

[E já é quase um poema.]

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

É sobre sexo.

Sempre foi. E combinaram que seria pra sempre. Sexo. Pra sempre.
Deixou de ser. Sexo. Sempre. Foi pra sempre.
Virou. Foi. Conversa de fim de tarde. Conversa de madrugada. E sempre.
Não era. Só sexo. Era a tarde. A larde.
Era tarde. Foi sexo. Foi.
Não era. Por hora foi. E pra sempre.
Ficou. Ela foi. Morta.
O pra sempre. De sempre. Foi. A. Mortalha.

sábado, 10 de outubro de 2009

Do antes e adiante.

Só sobrou apagar a luz. Foi a última a sair. De tudo aquilo que chamaram de lar restara apenas o calendário na cozinha, este ninguém quis levar. Brigaram pela tevê, dvd, o som. Ninguém quis a cama, virou presente. Ela quis as fotos, do tempo que ainda era bom, o jeito dele dizer o mesmo foi furtar-lhe o caderno de desenhos, do tempo de bar, de desenho em guardanapo, de beijo vermelho no espelho formando moldura, o jeito de matar a saudade de um dia de ausência.
Ele arrumou os DVDs, os vinis, os CDs. Deixou pra ela os favoritos, era o jeito de dizer: não há mais tempo..
Ela pegou o primeiro livro dado de presente a ele, que veio sem dedicatória, e pintou: e todo o pra sempre que nos for permitido. Foi o jeito de dizer ‘fizemos o possível’.
Era tudo eles, o quarto, a cama, a sala, a cozinha. Era eles desistindo.
Era eles a cinemania. Era eles a musicmania.
Faziam tanto sentido um pro outro, que ninguém teve tempo de questionar. E por um instante esqueceram o mundo. O mundo e todo momento de antes e tudo que seria depois de antes e do que seria de antes do instante e resolveram que eram felizes – o erro crasso. Pecaram por não serem medíocres, por sonharem um dia, por não se limitarem a um primeiro encontro, mas por escolherem todos como primeiro.
E um dia o que era lógico passou a incomodar e resolveram questioná-los, eles tentaram alegar ilógica dentro de uma lógica só deles. E bastava. E então se acharam injustos e infiéis, descobriram que não havia nada que justificar, depois de terem feito isso tanto, e agora sobrara o calendário na parede. O que sempre sobra; os dias de antes.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Amar(go)

Cá estou doente, manda urgentemente algum cheirinho de alecrim.

Não há mais o quê dizer.