sábado, 28 de novembro de 2009

Conduta

Eu quero um beijo imenso onde eu possa me afogar



A sede é pra saliva.
A palavra é o grito.
Ciúme pro perfume.


Pulmão vazio pra confiar o ar.
Fôlego pra esvaziar.

Unha só pra forçar
você pra cravar

toda pressa
toda com pressa

É só impressão,
imprecisão,

não

compreensão pra convidar a ficar
Sempre pra sempre

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

In

Ela e agonia ali corroborando o texto. Não era mais ensaio. As palavras tomando o curso, que já deveriam saber decor, enchiam o discurso, fático apenas para os desavisados.
Deveria ser um só, mas não parecia argumento pertinente, precisava de elementos extralingüísticos, com eles havia maior intimidade, gostava mais deles do que de muitas pessoas, estas são difíceis de gostar.
Ela se atrapalhou na retórica. E fez a afirmação, extra-oficial, performativa.
Se não houvesse dito, agonia não seria mais existente já que seria mais fácil acreditar no próprio discurso. Mas toda aquela pragmática diz: veracidade. Não há como desconsiderar uma dessas máximas, que seja o mais lógico então: ignorar a si.

Agora sim há condições de felicidade.

Sobrou o adeus inquieto na gaveta.

A final é tudo questão de prefixo.

domingo, 22 de novembro de 2009

Coquetel

Acorda
É um devaneio!
O elefante vem logo rosa

A corda
Tira do pescoço
Mantenha o laço, menos frouxo

Vai desprender

O papo no parapeito
era o ensaio
o pas de deux

Éramos nus na chuva
Poros pela mão, no chão

Os dedos cegos
Pele braile
Sinestésico
Anestésico

Sexo a soslaio
A sós
Vai desaprender

A fruta é verde
Cai ao pé
É morte

Tira
a endorfina
a ergotamina
e atira

O sadismo desprendido:
Amordaça
A mortalha

Ri
Enquanto é condenação
Solidão, solidão

Janela aberta
Pulso aberto
É tudo rubro

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Constativo.

¿ llegó la hora, vamos andar, recorrer el tiempo?

La primavera si fue y usted ressurgiu. El sol seca, rápidamente, y el tiempo se derrete.
El tiempo está acabando y nosotros aquí, olvidados. Nos avisaron del fin del tiempo, de más otro verano. ¿Llegaremos al tercer?

No si hay samba, si tiene un tango.


Tristemente samba, febrilmente tango.


(para siempre la canzone per te)

domingo, 15 de novembro de 2009

Repente

A flor? Amor-perfeito.

sábado, 14 de novembro de 2009

Repente

- Hey, vamos!

Pegou pela mão o passeio foi longo.Grama, abriu o livro. Foi aí o descuido. Teve riso e o sorriso brotou. A flor? Amassou. Agora é ferida aberta.

Prefixos.

A poesia fica forte no desencontro. Mas era os dois em momentos iguais: ambos queriam coisas diferentes.

Mas veja: o sorriso pode ser só o primeiro. Depois é riso, sexo. O riso é calo, sorriso é dor.
Sorrir é da piada sem graça, é o estado de graça. É a diversão discreta, calada.
Rir é boca cheia, perna aberta. É a diversão que não consegue reduzir o volume, safada.

Riso vira só. Riso vira sorriso. É chamar pelo começo do nome a primeira vez. Sorriso é maior chance de virar pó. Sorriso vira logo poesia, verso primeiro tímido é depois obra prima.

O riso é o acordo. O andar solto, o ritmo solto.


Aos tímidos a inveja! É tudo riso.



Já pra manhã guardei o meio-sorriso, meio só, no meio do meu riso.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A um ausente

O quarto foi tomado pela escuridão. Ficou vedado, de luto, respirava com dificuldade, com o conforto do travesseiro gelado. Isolado – acusticamente - à distância da caixa de entrada.
Um dia teve fome. Comer a presença.
Teve sede. Secar a fonte.

Num dia de tempestade a água transbordou as frestas da janela, esquecida semi-aberta, os olhos embargados insistiram uma prensa.
Ventou, um dia. Foi uma brisa leve, coçou o nariz e franziu a testa.
Uma manhã a luz entrou pelo vão da porta intrusa, distraída, ganhou um sorriso.

O vazio do quarto expulsa, impõe regras, impede o sono.

O riso veio antes do esperado, melhor que o esperado e mais desesperado. Aflito, afinal, com o novo efeito, o futuro do desfecho, o que fazer com as intenções primeiras? O que fazer dos planos, dos dias investidos no espaço?

Perdi a chave. E agora a confusão das cores faz efeito hipnotizante, não há como convidá-las a uma lógica que abrigue os dias no espaço.



Você ainda tem a receita, podemos jantar se prometer não apagar a luz ao sair.

domingo, 1 de novembro de 2009

Recado

Dera mais um passo. O próximo seria decisivo.
Espiou. Tudo convidava, o mundo falava com ele e o esperava em festa. Eram tantas as cores, deixou o vento farfalhar os cabelos, fechou os olhos e avançou com os braços, os dedos formigavam, o coração palpitou. A certeza era ali: a lucidez às avessas.
Ela avisou: Só precisa mais um.
O belo do dia é morte. A noite tudo ri, o beco camufla o fundo.
O silêncio risca o vinil e os poros da pele, a música confunde e dança - só - nos lábios semi-abertos. O silêncio insiste um gemido, a cabeça propõe uma volta, até de manhã.
O salto é mortal.