sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Undead

Ela gosta do café bem amargo é o jeito que encontrou de comprovar a vida. O nível de amargura é como sobreviver àquele encontro em que os dois sabem o que os espera, que é só uma questão de ritmo para que dancem tranquilamente por vários salões.
É uma questão de espera, as mãos são tremulas, a garganta coça, o estômago em jejum.
Ela tem convicção que nem todo café pode vir acompanhado com um biscoito, embora seja o que todos procuram. Nem sempre há oportunidade, ou tempo suficiente, para a água tônica e então acabamos carregamos, sempre, as experiências anteriores. Assim, o café nunca é somente café, é qualquer outra coisa que agrada no primeiro gole, mas é apenas uma questão de tempo até aceitarmos sua amargura.
Todo o açúcar é adereço, o disfarce para toda nossa necessidade. Aceitar é só uma forma de se condicionar, que mesmo com outras torrações é sempre igual, é um ritual, é sempre o mesmo, não faz diferença, mas dá o sopro de coragem: Nous sommes mort!
Ela gosta do amargo do café porque por mais que seja sempre igual há sempre um consolo no primeiro gole: Nous sommes vivants.

Nous sommes malheureusement morts-vivants.



Viver ou morrer é só acaso, não ao acaso.

2 comentários:

F. Ramos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
F. Ramos disse...

já dançamos alguns tímidos passos
já cantamos alguns convívios
já bebemos alguns destilados

Mas sabe?
Ainda não marcamos um bom e amargo café!