Ela gosta do café bem amargo é o jeito que encontrou de comprovar a vida. O nível de amargura é como sobreviver àquele encontro em que os dois sabem o que os espera, que é só uma questão de ritmo para que dancem tranquilamente por vários salões.
É uma questão de espera, as mãos são tremulas, a garganta coça, o estômago em jejum.
Ela tem convicção que nem todo café pode vir acompanhado com um biscoito, embora seja o que todos procuram. Nem sempre há oportunidade, ou tempo suficiente, para a água tônica e então acabamos carregamos, sempre, as experiências anteriores. Assim, o café nunca é somente café, é qualquer outra coisa que agrada no primeiro gole, mas é apenas uma questão de tempo até aceitarmos sua amargura.
Todo o açúcar é adereço, o disfarce para toda nossa necessidade. Aceitar é só uma forma de se condicionar, que mesmo com outras torrações é sempre igual, é um ritual, é sempre o mesmo, não faz diferença, mas dá o sopro de coragem: Nous sommes mort!
Ela gosta do amargo do café porque por mais que seja sempre igual há sempre um consolo no primeiro gole: Nous sommes vivants.
Nous sommes malheureusement morts-vivants.
Viver ou morrer é só acaso, não ao acaso.
2 comentários:
já dançamos alguns tímidos passos
já cantamos alguns convívios
já bebemos alguns destilados
Mas sabe?
Ainda não marcamos um bom e amargo café!
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