domingo, 19 de setembro de 2010

Bárbara

O pó se acumula.
Mas é preciso que haja algo que se faça em excesso. Afinal, cansei de economizar nas promessas.

Há sempre o álcool a mão, a dor contida no meio litro.

Sempre a mesma tentativa de recomeço que termina no desgosto do encontro. A repugnância naqueles que pretendem furar o exílio e chamar-me pro café. Por quê dessa necessidade de salvar-me do retiro?

Deixe-me cá! Só com os meus ácaros! Que esses; conheço de nome e do mal que me causam.

Não minha cara, o desprezo não é uma marca de personalidade ensaiada com ânimo. É apenas consentimento.

Talvez você devesse aparecer. Comentar o ar viciado, abrir as janelas, acabar com a comida da geladeira, procurar o doce, fazer-me sair até o supermercado – só pra te receber. Para minha infelicidade acordar com seus cabelos enroscados nos meus. Seu hábito de acordar cedo, usar meu secador, meus chinelos, invadir minha cozinha, fazer meu café. Contar-me as epopéias da época, suas piadas curiosas, seu jeito de comentar as notícias e acabar com o yogurt. Conversar de manhã! Hábito horrível esse seu.

Talvez você devesse aparecer. Usar meus sapatos, meus casacos, impregnar seu cheiro na minha cama. Confundir sua vida na minha, seus vestidos no cabide, duas escovas, duas canecas de manhã.

Talvez você devesse aparecer.
Me fazer feliz.

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