segunda-feira, 24 de junho de 2013

Uma pedra roubada presa a um cordão é carregada pela nudez de uma menina, desce pelos seus pequeninos seios e esconde-se em seu ventre. A serenidade com que a retira do esconderijo e mostra ao rapaz atordoa-o. Qual seria o sentido de um segredo vir a tona motivado pela sutileza de um gesto? O que ela procura é absolutamente impossível de se concretizar, ele pensa e afasta-se. Supostamente, ela imagina a retribuição do segredo com outro, o que seria a única lógica empregável à patética cena, ele fala achando ter pensado. Não é cena, é experiência, percebe? Não quis dizer que você é patética, só não acho correto sair revelando-se por aí, qual o sentido disso se em pouco tempo irei embora carregando seus íntimos desejos? por que revelar-se agora se ainda não estou pronto para compreender o que isso significa? como poderia compreendê-la e então partilhar dessa experiência se sou tão ou mais desértico que você? mas percebe se tratarem de desertificações diferentes? estou devastado, aqui é tudo ermo e sôfrego, as sementes caem mas as plantas não fincam raiz, os peixes morrem de sede no mar, as linhas se trançam sem se tocar, tem muita música e poesia presa nas vísceras, se lhe der algo eu morro e morrendo morremos os dois. seu deserto não é este, é descampado, é sazonal, você é abandono e entrega: se despovoa e se desprende, perde-se nas entranhas - suas e minhas - e derrama até a última gota, quando então já não lhe sobrar nada se perderá ainda mais em uma entrega sem fim; você é um deserto de acumulação sem renúncia.  patético sou eu, se eu tiver mesmo que ir embora, não saberei como reivindicar meu pedaço de solidão, qual parte de você sou eu nesse instante. se eu for e porque nunca fui capaz de despir-me de todo, como encarar sua nudez que é tanta soma e me sobra tanta falta? você acha possível acreditar que meu deserto fica menor com o seu? 
E acreditou por três noites.

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