sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A um ausente

O quarto foi tomado pela escuridão. Ficou vedado, de luto, respirava com dificuldade, com o conforto do travesseiro gelado. Isolado – acusticamente - à distância da caixa de entrada.
Um dia teve fome. Comer a presença.
Teve sede. Secar a fonte.

Num dia de tempestade a água transbordou as frestas da janela, esquecida semi-aberta, os olhos embargados insistiram uma prensa.
Ventou, um dia. Foi uma brisa leve, coçou o nariz e franziu a testa.
Uma manhã a luz entrou pelo vão da porta intrusa, distraída, ganhou um sorriso.

O vazio do quarto expulsa, impõe regras, impede o sono.

O riso veio antes do esperado, melhor que o esperado e mais desesperado. Aflito, afinal, com o novo efeito, o futuro do desfecho, o que fazer com as intenções primeiras? O que fazer dos planos, dos dias investidos no espaço?

Perdi a chave. E agora a confusão das cores faz efeito hipnotizante, não há como convidá-las a uma lógica que abrigue os dias no espaço.



Você ainda tem a receita, podemos jantar se prometer não apagar a luz ao sair.

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